Vidas Vagas

Paz é só mais uma destas palavras mortas e cruas
Que tanto faz, se agora doer ou chover de mansinho.
Se a vida não é mais a mesma
As mesmas coisas não ficarão lá trás
As mesmas mortes sujando as ruas com sangue nos jornais
Paz na terra, por que os homens são todos iguais
Todos matam uns aos outros, uns por pouco e outros por mais
Todos se matam ao notar que a guerra é produto da paz
Sentem medo do que é certo errado e o que não se faz
Procuram erros nos outros para poderem errar mais
Ferem a vida com armas de fogo sagrado, santo e sacro
Que mal cicatriza suas feridas, esperam conseguir alguém do seu lado
Alguma certeza do depois, esquecem de viver vivendo isolados
E erram temendo o por vir, por medo de errar e não serem perdoados
Privam-se do sabor doce da língua o amargo, sentindo o prazer sendo sempre roubado
Fazem o bem esperando algo em troca, pedem abrigo a certeza inerte à porta
E se camuflam em qualquer lógica, tendo a razão como propósito e o padrão como proposta
Carneiros em peles de lobo cada um, um ser único e igual como o todo por utopia ideológica
Esquecem de quem são ou quem deveria ser, esquecem de não tratar o eu como se fosse você
Deixam de lado a beleza das coisas como se o resto desse sentido a viver…

Ser e querer

Olhando por meus próprios olhos
Vi, mas não soube entender
Andei tão catatônico
Para agora não saber
Prestei atenção em tudo
E pensei no que atentei
Vi o que me feria
E quantas vezes já me matei
Ouvi as palavras e seu poder
Atentei-me querer e ter
Deveria ser querer merecer
E pela necessidade devia  se ter
Pra mim as tardes parecem cinza
E a noite cai em degrade
Pelos telhados sujos
Que escorre o orvalho ao amanhecer
E a fome é um produto do poder
Por que como todo jogo
Aguem ganha
E alguém tem que perder
Peões caem aos montes por nada
E talvez só não acabe
Por que o rei tem que morrer
Independente de em qual casa ser
Todo o tempo queria entender
O que a vida me quer
Ou o que deveria eu saber
Eu quero um sentido pra perder
Por que sentido na vida não haverá de ter
A maior beleza é tudo não saber
“A ignorância é uma benção”
Mas não enquanto fomos capazes de querer…

Difícil entender

É difícil de entender
Mas do óbvio olhar e não saber
Se da tua honra mesmo
Meu desejo não há de ser
Se isso não se aplica a mim
Poderia então a você

Como se mentira

Fosse algo que não se possa ter
Como se a verdade
Fosse à única coisa
Impossível de se corromper
Mas é difícil de entender
Uma única razão
Nem sempre exige
Um único por que
Nem tudo o que é sagrado
Ira nos converter
Se a vida tem dois lados
Eu quero o mesmo que você
Mesmo que seja o errado
Assim teria de ser
Por que sei que não é fácil entender
Eu sei que eu quero ter
Assim como qualquer um tem seu querer
Eu tenho o que nem quero
E o que quero comigo nem quer  ter
Não é meu seu querer
Ainda bem que eu sei
Que é difícil saber
Porque eu pensei
Quando apagaram a luz
Difícil foi não ver.

Bem vindos a minha mente, entrem e sentem-se

Bem vindos a minha mente

Cuidado para não se perder
Aqui as paredes se movem
E as palavras enlouquecem você
Como a poesia pode ser
Vivida verborragia da vida
A arte de transformar toda beleza
Em um anel possesivo
De destilar incertezas vagas
Sob o céu rachado
Da estrada de terra
Rumo ao destino perdido
Cansar de correr os mesmos riscos
Escrever possesso por um vício
De se perder dentro do próprio inconformismo
E negar a si mesmo abrigo, deixando-se no frio
Fundir passado, futuro e presente
Deixar todo amor decadente em um lapso
Depois torna-lo imortal como se fosse fácil
Ver beleza em flores e sacos plásticos
Bem vindos a minha mente
Tão fácil é aqui de se confundir de repente
Não reparem a bagunça e as coisas quebradas
Acontece que para mim a desordem é sacra
Eu não faço questão de ser compreendido
Nem peço respeito, inspiração não vem disso
Há quem saiba me deixar aturdido
E, Deus, como eu gosto disso
Distorção sempre será bom senso
Enquanto vivermos em um mundo distorcido
Bem vindos a minha mente
E alimente-se da sensação de perigo
Bem aventurados o povo sozinho
Procurando vestígios
Duvidando das questões incontestáveis
E queimando as provas para não serem respondidos.

Oscilação

Como fazer as escolhas certas
Se nem sempre estão para o bem?
Como ser quem eu sou sabendo que
Se há muito do que duvido
E o que nem sei?
E como perder o medo
De se perder
O que não se tem?
Perdendo a cabeça
E se esquecendo
Do que não se fez
E como não esperar
De ti o que se espera de alguém?
Como pagar o preço da vida

Mesmo da morte sendo eterno refém?

Como mentir sabendo que a verdade não vem?
Tudo o que eu espelho
É o que nem sempre esteve também
Como se o outro lado do espelho
Não pertencesse a ninguém
Quem eu não queira por bem
Mas eu sei
Como se a dúvida nascesse do anseio
De se ter
O que se ter?
O que o futuro acha que não tens
Mas o que haverá de ser nem sempre escaparei
Agora resta saber o que talvez farei
Pois nem sempre estou para o bem
Mas o que eu quero
Será tão seu também
Pois do carma bem sei
Que de nada alcançarei
Pois tudo o que quero
Tem seu querer também
Então como uma prece à dúvida
Uma canção de ninar a um neném
Todo graciosidade de tal beleza a liberdade
Merece esta mera falta de desdém
Para que na sua falta
Não entoem flautas em um simples réquiem…

O que realmente é triste

Já chega de querer comprar o destino
Envelhecer é um doce corrosivo
Nosso medo trêmulo esta longe de ser persuasivo
Uma vez que nossa morte é sua libido
Pois é a única coisa certa que a todos resta
O resto é esquisito, todo o resto é indeciso.
Um próprio dia para ter seu fim
Deixar de viver fica de lado um vicio
Por que morrer talvez seja para nosso bem
Se a vida fosse eterna nada mais seria
E na hora de nossa morte que vemos a eternidade
Dos pequenos momentos de alegria
E se livrar de qualquer medo de morrer
Mas estamos vivos, então vamos viver
Deixemos o outro mundo de lado
Para quando nele viemos ter
Existe tanta beleza aqui, há tanta pobreza aqui
Há tanto o que comer, e tanta gente sem ter
Percebam inferno e paraíso no mesmo mundo dos homens
Tanta indiferença me entristece a ponto de não saber dar nome
E tem gente enriquecendo,
Dos céus vendendo os terrenos.
Mas tem gente chorando
Tem criança com fome morrendo
É de tudo muito tão triste
Queria que metade das verdades
Não existissem, queria que todo mundo
Entendesse o que eu disse.