Mente Natural Naturalmente Mente

                                                                                                                                 dedicado a Thaina Dias
É tão singela e perfeita a natureza
É tão simples e complexa sua beleza
A natureza das árvores e suas folhas verdes
A natureza nas flores da sacada
A natureza morta da tela na parede
E de flores na beira da estrada
Somente o olhar que através dos muros
Ao horizonte sua visão estende
Somente estes seres entenderão; somente estes videntes
Que não provarão nada a ninguém
Que creem sem estar crentes
Aqueles que não possuem a cegueira da mente
Somente estes a natureza entendem
A natureza dos seus atos
A natural realidade camuflada por matérias e boatos
A verdadeira umidade da manhã contida no orvalho
A verdadeira alma do momento esquecida no retrato
Só estes entenderão que um pássaro livre canta
E o aprisionado chora de solidão
Entendem a dor das rosas ao ter espinhos
Para mostrar como a beleza machuca em vão
Só estes entenderão que infinito nunca foi tempo
É intensidade e proporção
E que eternidade não é intensa é apenas propensa à ilusão
Que o efêmero é denso e cheio de verdades então
Verdade que está na luz do sol, na terra fértil e estéril do chão
Verdade que não está em livro algum
Verdade que talvez esteja no coração
Verdade das flores mentira verdadeira e efêmera das cores
Beleza nas ruinas escassas de rancores
Faces tristes, e choros felizes de lagrimas doces
Tudo é natural, toda beleza livre de amores
Injuriosa realidade avessa tida como verdade
Somos tão desnecessários por vaidade
E precisamos de tão pouco para ser de verdade
Precisamos de uma única fonte de liberdade
Tudo o que precisamos é de uma certeza
Só é puramente bela e livre a natureza

O ventríloquo

Pesos e fios nos ombros, mãos sobre cabeças
Qualquer coisa possui a cor que rejeita
Egoístas, falsos felizes e bestas
Sou eco que alguma queda reclama
O vento no corpo que sentes
De seu povo, tu é que se torna dissidente
Há algum espaço vazio
Entre silencio, luz, calor, medo e frio
É como se algo caminhasse sozinho
Algo que devorasse todo o caminho
Algo que decora as mentes
De todas essas mentes de espaço vazio
Algo que inventa o que sentir
A esses corações baldios
Algo que compra a amizade
Destes sentimentos líquidos
Algo que fabrica o choro
Destas “lagrimas de crocodilo”
Imaginem um meio de te fazer
Amar por medo e mentir por medo
Ele possui
Imaginem um meio de te deixar
Com costas restas, cabeças baixas e olhos fechados
Ele possui
Imaginem algo que te deixe
Cego, surdo, mudo, passivo e obtuso
Deste ele também usa com abuso
Imaginem algo que cria problemas
Para soluções
Algo que cria emplastos
Para dores sem razões
Imagine que este algo te comanda
Que só há algo por que algo foi criado
E se você quer achar culpado de tal erro
Levante de pressa e corra a um espelho…

Escrevendo Mais Um Poema

Escrevo por sentir
A necessidade de escrever o que sinto
O que penso ou sou pensado
Escrevo lagrimas de crocodilo
E sorrisos amarelados
Tomamos a realidade como óbvio
Mas o real pode ser paralelo
O tempo simultâneo
Não é esta uma forma de cometer novo engano?
Escrevo por que sou humano
Escrevo por que ainda sou um animal
Enjaulado em dogmas; cheio de instintos profanos
Escrevo o esdruxulo, o belo, o estranho…
Escrevo o que vejo
Meu olhar ainda não é mecânico
Escrevo falsas promessas, mares de olhares
Estradas silenciosas, arcanos
Escrevo flores e faces em pânico
Escrevo gritos de liberdade em pedaços de pano
Escrevo o que acalma e repulsa o meu estomago
Escrevo o que sou
Escrevo o que não pretendo ser
Escrevo a meu respeito
Também escrevo sobre você
Escrevo o que pretendo viver
E enquanto vivo pretendo sempre escrever…

Soneto da ampulheta

Escoa a areia da ampulheta
Por vielas, becos e veredas
Chora só o bom senso
Ecoa louca a certeza
Janeiro sensacionalissimamente trágico
De inesperáveis Venezas
E meses que sobram sobre a mesa
Noites cálidas de frieza
Vertigens enjoadas de beleza
Poesia rugosa e fedorenta
Que devora a realidade de sobremesa
Já vazia a ampulheta
Já temos um decreto, uma sentença
Adiante, exilem o tempo e enforquem a certeza