O paladino e o prisioneiro

Debate nas grades do peito
O prisioneiro
Que segue a sina
De ser sempre herdeiro dos mesmos erros
De aqui se pagar
Mesmo sem ter feito
E ter que cessar
Mesmo em desejo
Mais ainda da boca só
Resta o silencio
E olhos sem honra
Um paladino por despeito
Saber o que é bondade
Saber o que é respeito
Saber que o certo
Não é o que tenho feito
E esse olhar tem segredos
Este brilhar ainda
Reluz como lustro negro
Sem cessar e nenhum receio
Sabendo o que dizer
Sabendo como falar
Vendo o alvo esquivo e se calar
Vendo o real desmaterializar
A certeza valendo nada
As apostas e oportunidades canceladas
O mesmo infinito vazio
Da mesma estrada
Um paladino na hora errada
Muito bom é pouco por nada
Muito é poucas palavras
E palavras para o prisioneiro não é nada
É só mais um crime alheio
Assistido da arquibancada
Um tiro certeiro
Na vitima errada
Saber o que é tudo
E saber o que é nada
Não sei se essa canção
Permanecera calada…

Lembranças e conclusões de um bêbado morto envenenado

Vivi deixando rastros
Para quem soubesse
Desenhar o acaso
Contei com a sorte
Não contei
Que ela era apenas um boato
Andando por vielas
Nas vicissitudes do destino
Caminhando junto aos ratos
A maior cruzada
Com silencio exposto em palavras
Trancado no meu quarto
Lendo as mesmas noticias
Como se fossem os mesmo jornais
Sendo mastigados
Andando sempre pelas mesmas ruas
Os mesmos restaurantes
E os mesmos pratos
Sempre a mesma esquina
A qual caia, os mesmos bares
E o mesmo whisky barato
A vida demasiada
Bela e tediosa
Com sabor de chocolate amargo
Esperava sempre
Ter amor
Mas não vejo agora por que ter de fato
Foi naquela noite fria
Em que toda angustia ria
Que me vi embriagado
A segui pela rua
E eu pedia desculpas
Certo de que não lembraria
Ela me amaldiçoava
E fingia que não me ouvia
Cheguei em casa cambaleando
Fedendo a álcool
Não adiantava
Dizer eu te amo
Ela me disse
Que era a gota d’água
E não havia mais desculpa
Olhou em meus olhos
Deu-me um café
E disse durma
Ela estava tão linda
E eu não sabia
Que meu café tinha cicuta
A morte não é ruim
Como morri é que me assusta
Assusta entender agora como a vida é bruta
Vivi deixando rastros
Para quem soubesse
Desenhar o acaso
Mas a vida é andar descalço
Sobre os cacos
Das garrafas de whisky barato…

Não Pense

Não pense que por que
Eu não tenho o que eu quero
Vou deixar
De precisar do que terei
Não pense agora
Só por que meus olhos
São seus escravos
Seus olhos serão meu rei
Mas não pense
Em assinar minha carta de alforria
A liberdade é perigosa
E eu me cegaria
Não pense em mudar de idéia
Quando eu estiver em outro caminho
Não pense em me deixar só
Quando eu não estiver sozinho
E não pense em me deixar
Ver o fim de uma história
Sem me dizer
Como tudo começou
Não me diga o que fazer
Posso estar confuso
Mas eu sei pra onde vou
Posso até ficar surdo
Mas ouvi  muito bem
O que você me falou
Não pense em desmentir
Que foi tudo um engano
Não me veja fugir
Isso não é humano
Não, não pense
Que só eu
Preciso aprender
O que eu não sei
E não pense
Que foi ato de desistir
Só por que me calei
Deus sabe o quanto eu espero
E o quanto eu esperei
Então não pense.
Porque eu fiquei
Perdido
De tanto que eu pensei…

Relojoeiro Miope

Esperança
Uma das poucas coisas
Que não podem nos tirar
Arrogância usada
Para nos alimentar
Distorção
É só um ponto oco
Para me referenciar
Dor é algo assim
Que não vai nos matar
Nem nos fazer feliz
E só faz crescer
A vontade votiva de viver
Será que amanha vai ser
Mesmo outro dia?
Se fosse para escolher
Entre ontem e hoje tanto fazia
Tédio é uma sala de estar
Anexa à agonia
Mas as palavras da insônia
Sem remédios
É quase epifania
Os meus relógios invisíveis
Só mostram horas vazias
E nos calendários
Que guardei
Só tem
Datas perdidas
Será que amanha vai ser
Mesmo outro dia?
Se fosse para escolher
Entre ontem e hoje tanto fazia
No meu relógio  invisível
Agora é a hora do dia
Pois horas sempre são iguais
Sempre estão sozinhas…

Um dia infinito por osmose

Eu queria
Um dia poder explicar
Tudo o que não posso
Entender
Eu queria
Um dia poder chegar
As mãos sobre seus olhos
Sem avisar você
Um dia sob a chuva
Respirar fundo
Ir à luta
De padrões desnudos
Não ter medo de ter medo
De realizar os sonhos que amedrontam
Bom que tudo o que é bom faz mal
Mau que tudo que é mau faz bem
Um dia, trancar-me em uma sala vazia
Encher ventiladores de flores dentes de leão
Recitar Rimbaud e Shakespeare
E ligá-los na ultima rotação
Bom seria deter todo o infinito de um dia
Em minhas mãos frias
Bom seria de certa forma ser precoce
Saber toda a verdade de um dia por osmose
Um dia eu vou saber o que dizer
Um dia vou ter muito pra falar
Um dia infinito
Que não terá escapatória para terminar
Um dia na historia sem fim
Um dia com uma boa história pra contar…

Nada é igual foi agora

O mundo não é mais o mesmo
Que a um minuto atrás
Daqui a um minuto
O mundo não será assim mais
Mentiras não são boas
Por melhores que pareçam
Por que mentiras acabam
Mais tarde ou mais cedo
Uma mentira
Que dura para sempre
É verdade
Mas a verdade não é sempre
Então não tente
Mudar as coisas inertes
Transmute constantemente
Tudo que se mexe
A vida não é um jogo
O acaso e o destino
Não é um par de dados
E a morte nem é o oposto
Dizem pra esperar, e eu espero
Canso  de tanto não tentar
E se eu tento ser sincero
De repente é desespero
A felicidade não tem preço
É só entra em promoção
Quando não temos dinheiro
O amor virou palavra
Bela e dita o tempo inteiro
Da boca pra fora
O amor virou foi erro
Amizade é questão de propaganda
De gostar das mesmas marcas e estampas
De entrar na mesma porta e não importa
Respeito, compaixão e confiança
O mundo não é mais o mesmo
Tudo mudou
E muda o tempo inteiro
Nada será sempre o mesmo
E nada é igual foi agora…

Sentinela no portão

Sentinela no portão
Esperando um pouco de atenção
Seus restos não são prova de amor
Mesmo que seja de coração
É só descaso e a falsa idéia de obrigação
De cumprir o seu dever
Por pura educação
De que vale ter boa vontade
Se a sua caridade é só descaso
Pra se sentir um cidadão
Útil e respeitado
Cumprindo o seu dever
Como se o mundo se tornasse melhor
Depois do almoço
Como se a vida fosse uma peça
Em que você interpretasse o bom moço
Sentinela no portão
Esperando quem sabe
Uma oportunidade
Já que não há solução
Você diz ajudar
Mas tudo o que quer
É ele longe de seu portão
Como se a vida valesse pouco
Como se não morrêssemos apenas uma vez
Como se tudo fosse um teste
E que só você precisa-se de um dez
Sentinela no portão
Pedindo esmolas
Para alugar o amanha
Seu rosto sujo e suas roupas de escorias
A mente triste e de más memórias
O calor de seu cobertor
Não abranda ao frio
Que faz falta de amor
Sua comida alimenta a boca, mas não o coração
É tudo sempre tão frio na rua
Quando a rua é um lar de solidão
Sentinela no portão
Vigiando um espelho
Do futuro com uma fenda
Para desilusão
Esperando um milagre
Ou somente sua atenção
Daí compaixão a quem de muito que se há
Nada tem, e espera de muitas vezes
Menos que obrigação
Sentinela no portão…

CARMIM

Agora eu juro
Um dia cessar
Esta atitude peculiar
Que eu perduro
O silencio é tão obscuro
Como então da escuridão
Se há segurança
Mas não há propósito
Não há esperança
Eu espero
O que parece
É que não posso ser forte o bastante
Pra ser sincero
Pelo menos não para lutar
Pelo o que eu mais quero
Eu minto para mim
Em me prometer
A cada dia fazer
O que não pude em dia nenhum
Não há nenhum dia ruim
Mas essa covardia
Faz com que dia nenhum
Seja bom
Bom seria o dia
Que todo esse verde
De sentimento incandescente
Se dilatassem por mim
Num dia perfeito
Traçado na linha do tempo
Que para ser de fato como tal eleito
Não poderia ter fim
Um dia em que a explosão de perfumes
Perfumasse a sala com essência de rosas carmim…

Tanto faz, uma revolução sem dança não é uma revolução…

A queda foi alta de mais
Ultrapassou a barreira do som
As luzes piscam lá atrás
É só um sinal de alerta
O que doía já não dói mais
E agora o que tanto fazia
Nem  importa mais
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”
E só eu que remetia
Promessas
Sem intenção
E o que me importava
Agora
Tanto faz
Tanto faz
Se os dias são ruins, bons ou iguais
Tanto faz se as cores não fazem mais som
Se a beleza e a ternura é o que faz doer o coração
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”
Tanto faz, se eu posso
Mudar as coisas ou não
Tanto faz, se a companhia é solidão
Tanto faz se tudo agora é escuridão
Se nada é pior
Ou se algo que fiz
Foi em vão
Tanto faz se me importo de mais
Tanto faz que as coisas continuem sempre
Sendo desiguais
Tanto faz
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”
A queda foi alta de mais
Eu já não sei de nada
Perdi minha estrada
E agora eu tento qualquer atalho
Que me leve até ai
Qualquer atalho que me leve até ai
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”
“Uma revolução
Sem dança
Não é uma revolução”